sábado, 6 de outubro de 2012

Ano Sabático

Boa noite!!!

Hoje vou falar desse período que estou passando na minha vida, que é o afastamento das atividades profissionais.
Quarta-feira eu e meu psiquiatra concluímos que o melhor é eu não retornar ainda ao meu trabalho.



O luto é constituído de várias fases, cujo período de cada uma pode variar de caso a caso. Eu estou passando por elas como ciclos. É como se eu fosse bipolar nesse período. Tenho momentos de euforia, onde tenho vontade de fazer tudo, e outros de desânimo total, nos quais eu sinto que estou perdendo minha vida por não fazer absolutamente nada.

No começo de tudo isso, eu mesma duvidei que pudesse estar passando por algo tão difícil. Sabe aquela sensação de "preciso melhorar", "só depende de mim", e outras cobranças que na verdade vem do exterior mas acabamos exigindo de nós como algo pessoal?
Pois é, eu estava assim, até umas 2 semanas atrás.

Também me cobrava demais o fato de estar afastada do meu trabalho, sabendo que algumas turmas minhas ficaram sem aulas, pois não tinha professor para me substituir. Então, além da culpa própria do luto, estava agregando mais essa ao quadro de emoções negativas.

Até que comprei um livro chamado "O ano do pensamento mágico", de Joan Didion.


E ao ler algumas passagens, finalmente encontrei a empatia que busquei tanto nesse tempo, e não consegui. Encontrei na autora, uma pessoa que teve sentimentos semelhantes aos meus, e que foi procurar explicações na literatura da psicanálise.

Alguns trechos que me afetaram profundamente, por serem semelhantes aos momentos que vivi e estou vivendo neste ano:

Sobre a morte: "apesar de estarmos preparados e apesar de nossa experiência, mexe em coisas muito profundas dentro de nós, desencadeando reações que nos surpreendem e que podem liberar lembranças e sentimentos que pensávamos estar enterrados há muito tempo. Nesse período indeterminado que chamamos de `luto', é como se estivéssemos num submarino no dundo do mar, sofrendo a pressão da profundidade. Às vezes estamos perto, às vezes estamos longe, sempre mergulhados em recordações."

"O sofrimento não pode ser medido em distências. Ele vem em ondas, como num acesso, um ataque, em súbitas apreensões que enfraquecem os joelhos, cegam os olhos e transtornam o cotidiano da vida da gente. Quase todos os que já vivenciaram uma perda desse tipo mencionam esse fenômeno das 'ondas'".

"Sensações de tristeza somatizada que ocorrem em ondas, com duração de 20 minutos a uma hora a cada vez, sensação de aperto na garganta, de falta de ar por causa da respiração curta, necessidade de suspirar e uma sensação de vazio no abdome, falta de energia muscular e intensa tristeza subjetiva descrita como tensão ou sofrimento mental."


"Superficialmente, e na maioria dos níveis de existência, eu parecia estar sendo racional. Para o observador médio comum, eu parecia ter compreendido plenamente que a morte é irreversível."


"Subjetivamente, o sobrevivente se sente como se estivesse envolto num casulo ou num cobertor e, para os outros, pode parecer que ele está conseguindo lidar bem com a situação. Pelo fato de a realidade da morte ainda não ter penetrado na consciência, os sobreviventes podem parecer que estão conseguindo aceitar a perda."


"No perído de luto, as pessoas pensam muito em autopiedade. Ficamos preocupados, temos medo dela, vasculhamos os pensamentos à cata de seus sinais. Tememos que nossos atos revelem aquele estado muito bem descrito como "chafurdando no sofrimento". O luto, quando é visível, nos faz lembrar a morte, que é considerada algo antinatural, uma falha na administração da situação. "Basta uma pessoa estar faltando no mundo para que o mundo inteiro fique vazio para você", escreveu Philippe Ariès. "Não se tem mais o direito de dizer isso em voz alta. "Ficamos nos lembrando repetidamente que a nossa própria perda não é nada, se comparada com a perda vivenciada (ou a perda não-vivenciada, o que é ainda pior) por aquele ou aquela que morreu. Esta tentativa de um pensamento corretor só serve para nos mergulhar ainda mais profundamente nas profundezas da auto-referência (Por que eu não consegui enxergar aquilo? Por que eu sou tão egoísta?) A própria linguagem que a gente usa quando pensa na autopiedade trai o profundo horror que temos dela: autopiedade é ter pena de si mesmo, autopiedade é como ficar chupando o dedo, autopiedade é buáááá, coitadinha de mim, autopiedade é a condição na qual aqueles que sentem pena de sim mesmos se afundam ou até mesmo chafurdam nela. A autopiedade continua sendo o defeito de personalidade mais comum e o mais universalmente abominado de todos, e a sua destrutividade é plenamente reconhecida."


Ou seja, a autopiedade é um sentimento comum, que não deveria ser repelido tão facilmente.

Por isso o livro me fez pensar muito. As sensações descritas muito parecidas com as minhas, até os pensamentos sobre essas sensações.
E daí que percebi que comecei a me sentir melhor depois que publiquei o post "desabafo". Pois foi naquele dia que eu deixei a raiva me dominar, a raiva de tudo e todos, a autopiedade aflorar, independente de ser racional ou não. Bloquear os sentimentos não é natural. Aprendemos algumas coisas em nome da boa convivência, mas a que preço? Às vezes é preciso deixar a máscara cair, sem se preocupar no que irão pensar, sem se importar com as críticas.
E elas vieram. Mas foi minoria. O que mais tive de retorno ao meu post foram comentários positivos (nem só no blog, mas principalmente em particular). E com as demonstrações de carinho, percebi que mesmo que eu queira, não sou sozinha. Sinto falta das pessoas, e principalmente, sinto falta de ser útil a elas.
Percebi que o que me faz sentir pior é bloquear os sentimentos.

Voltando à questão do ano sabático, concluo que ele está sendo necessário para mim. Estou tirando tantas coisas positivas (amigos antigos que reencontro no face, amigos novos que faço no blog), aprendendo a conhecer a mim mesma, minha força que sei que existe. Aprendendo a fazer coisas novas, no artesanato, na culinária.
Refletindo mais sobre a vida, mas tentando fazer isso de uma forma positiva, tentando deixar o negativismo de lado. Sendo crítica com as pessoas, mas entendendo que é isso o que elas são: pessoas.


No geral, estou conseguindo deixar as culpas de lado, e aprendendo que o mais importante é o processo em si, e não o objetivo. O objetivo é eu melhorar, sair do luto. Mas o processo para chegar lá, é muito mais importante.

Grande beijo a todos.

2 comentários:

  1. Alê (posso?) sou sua seguidora há mais ou menos um mes, fiz comentário na BC de Esmalte, mas me descuidei de nossa amizade (conquista) e qdo volto aqui, vejo q vc está num momento delicado. Tbém sou prof. e sei o que é se afastar da sala de aula, não é como um trabalho burocrático, lembramos da voz, do jeito, da bagunça, da participação de cada um de nossos alunos, fica um vazio. Mas se está sendo acompanhada psiquicamente, meio caminho está andado pode ter certeza, tenha calma 9sei q é difícil) e já já vc estará forte e de volta, bjs amiga e qdo estiver bem 9será breve) apareça em meu blog, bjão e fica em paz

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  2. Bom dia Alessandra,
    gostei muito do que escreveu o importante é isso mesmo um passo de cada vez, prespectivar a vida de outra forma e com o tempo chegará lá.
    Beijinhos

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